terça-feira, 19 de agosto de 2008

amor desejado e definitivo




"O que pintamos aqui é o amor consumado, o qual é um compromisso da pessoa que existe, ela própria, em outrem. A sensibilidade e o sentimento lhe proporcionam sua tonalidade emotiva; a transparência do diálogo, em que cada um se diz e se conhece no outro sub specie veritatis, faz dele um amor intelectual; enfim, a decisão pela qual cada um joga seu próprio ser nesse amor faz dele um amor desejado e definitivo. Tal amor, que liga dois seres no que têm de mais essencial, que os une na fonte mesma de seu interesse pela vida, por sua infinidade (entendendo por "infinito" o que não tem exterior), é necessariamente exclusivo. Isso não significa uma abertura menor para o mundo e para os outros, porque, a partir da felicidade de fundo que o amor filosófico proporciona, todos os aspectos da vida se tornam sorridentes. O efeito imediato desse amor é a resolução - a resolução dos que, como quer que seja, se sabem vencedores."

(Marcel Conche, A Análise do Amor, p. 28, Martins Fontes).
fotografia: RC

terça-feira, 5 de agosto de 2008

às cinco horas da tarde em Ribeirão Pires













às cinco horas da tarde

alinhado ao vértice um esboço um quase contorno em que a luz
natural esvazia a sombra ordenado numa espécie de coerência
escapada à supressão o princípio desse fio em cheio
descontínuo uma obra agora como objetivo — dá trabalho
viver ao pó que refina e rasura o traço em pânico desmonta
quando o vento trinca (estremece) o eixo e o sentido para o
vôo do estame ou pouso o estalo da raiz (junto à pedra) ainda
mais vivo sobre cor


uma flor, próxima ao ônibus que passava vazio


poema de Danilo Bueno, publicado no livro corpo sucessivo (Oficina Raquel, 2008)
fotografia: RC